quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A CULTURA NOSSA DE CADA DIA



No dia 05 de novembro comemora-se o dia nacional da cultura. Mas o que exatamente devemos comemorar nesse dia? Primeiramente devemos refletir sobre o que entendemos por cultura. É comum utilizarmos a palavra cultura em vários momentos para dizer coisas diferentes. Por exemplo, dizemos de uma pessoa que ela possui cultura; ou dizemos de determinado costume que este faz parte da cultura daquele povo; dizemos de um livro, uma música ou uma pintura que eles são a nossa cultura; ouvimos falar sobre uma cultura de massa, cultura popular, cultura erudita, etc.

O que há de comum a todos esses modos de uso da palavra cultura é que ela é algo essencialmente humano. De certa forma, cultura é algo que se opõe ao que conhecemos por natureza. O título de um dos mais lidos livro de antropologia nos fornece uma imagem elucidativa, chama-se O Cru e o Cozido de Levi-Strauss. O cru é a natureza pura e simples e não difere de um lugar para outro, mas a partir do momento que entra em ação a mão humana essa mesma natureza toma diferentes formas em uma infinita variedade de pratos das mais diversas culturas existentes no planeta.

Desse modo, quase tudo que nos rodeia pode ser chamado de cultura, a gastronomia, vestimentas, linguagem, formas de divisão do trabalho, sistema econômico, costumes, etc. Até o mais simples gesto de levantar o polegar em sinal de aprovação ou contentamento nos remete historicamente a arena dos gladiadores do coliseu em Roma e é um resquício da cultura romana presente em nossos dias. Nesse sentido não há razão para dizer que alguém tem ou não tem cultura, conscientemente ou não, estamos impregnados dela.

Também não faz sentido ter um dia em que comemoramos tudo o que nos rodeia ou ter um setor da sociedade responsável pela cultura se a cultura é praticamente tudo. Acontece que nesse caso quando usamos a palavra cultura estamos nos referindo ao patrimônio cultural herdado através da história da humanidade, o qual é preciso fomentar e preservar. Assim, o conhecimento da história, da religião, da filosofia, da literatura, da música, das artes plásticas se tornaram sinônimos de cultura mais do que o restante dos fenômenos culturais que, como já observamos, é praticamente quase tudo o que nos rodeia. Isto se deve a um único motivo, é que estas formas de expressões presentes na arte, ciência, filosofia e religião refletem melhor e com mais intensidade a essência humana. Para parafrasear o poeta e cantor popular homenageado este ano pela nossa escola, embora “cada um nasceu com a sua voz” nascemos “pra dizer, pra falar o que todo mundo sente.” (Ave Maria da Rua – Raul Seixas).

Pensemos no uso da linguagem no domínio da cultura popular. Uma simples conversa é um fenômeno cultural, mas dificilmente vai para muito além daquele momento e daquele número de pessoas envolvidas. Diferente de uma conversa é um conto popular que, passado de gerações em gerações através dos artistas populares, os contadores de histórias, por expressar nessas histórias a essência do ser humano com seus desejos, medos, anseios e esperanças, ultrapassam o momento imediato, preserva-se na memória e são passadas para um número de pessoas que vai além daqueles presentes em uma conversa. Assim no uso popular da linguagem temos algo que vai para além do seu uso comum e chama-se Literatura, neste caso, Literatura Oral ou Popular. Uma das características para se chamar algo de cultura popular, é a divulgação, a mesma história ou seu enredo tem de aparecer em diversos locais de um mesmo país e até de outros países, ou seja, vai além do imediatismo de uma simples conversa. Outra característica é a sua preservação no tempo. Isto só acontece porque, principalmente no caso da cultura popular onde a ‘seleção’ das obras é algo mais natural e menos formalizado, esta ou aquela história carrega consigo a essência do ser humano e podem servir para várias épocas, gerações e geografias.

Este exemplo nos esclarece um pouco a confusão que se faz entre ter cultura e ter erudição. Na maioria dos casos os contadores de histórias não eram pessoas alfabetizadas o que não quer dizer que eles não eram representantes do nosso patrimônio cultural através do conhecimento das histórias, adágios, cantigas, anedotas, etc. Também não se deve confundir cultura popular com cultura de massa. Ambas, por motivos diferentes, tem uma ampla divulgação e dessa forma estão na boca do povo, nos mais diversos lugares de um mesmo país, no entanto a cultura de massa, geralmente não ultrapassa o momento em que ela está na mídia e acaba caindo de moda, por assim dizer. Ou seja, se ela não for uma obra de arte ela não terá uma duração no tempo necessária para alcançar outras gerações. Entendemos obra de arte, segundo nossa idéia de cultura, como aquilo que transmite uma verdade sobre o ser humano capaz de durar no tempo e não apenas a beleza da forma.

Agora entendemos que no dia nacional da Cultura devemos homenagear tudo aquilo que como patrimônio cultural, material ou imaterial, tem um único propósito, humanizar. Assim, o reconhecimento, a homenagem e, principalmente, o contato e a vivência desse patrimônio cultural nos possibilita ir além de nossos interesses pessoais e compreender cada ser humano como igual e irmão nos seus aspectos mais essenciais, seja ele de outra cor, nacionalidade, credo ou idade. É graças à vivência desse sentimento que a cultura entendida desta forma, e o incentivo e fomento da mesma, é capaz de promover a amizade, solidariedade, justiça, respeito, etc. É por isso que a Escola Paroquial de Música Tocando em Frente vêm parabenizar todos aqueles que se dedicam a essa nobre tarefa e deseja que, cada vez mais, a Cultura e o trabalho em torno desta faça parte do dia a dia dos cidadãos de Itapoá, das nossas famílias e comunidade.

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