segunda-feira, 30 de abril de 2012

Olá  pessoal, estou postando um artigo da professora Marisa da EMVL de Joinville que esclarece a diferença entre o que se costuma chamar de popular e erudito. Essas mesmas considerações valem para o violão também... Leiam e podemos conversar sobre o assunto nas aulas.

 _________________Popular ou Erudito?
                                                                                     qual é a diferença?
“_Professora, qual a diferença entre piano popular e piano erudito?”
Taí uma ótima pergunta!
Primeiro porque exprime um desejo verdadeiro de esclarecimento; segundo
porque a diferença entre erudito e popular parece ser a dúvida de muitas, muitas
pessoas e terceiro porque não tem resposta ‘certa’... aiaiai... Então me vejo na
necessidade de contribuir com alguns pensamentos meus pra que essa desagradável
‘diferença’ não seja empecilho pra ninguém deixar de estudar música! Até porque
estudei em conservatório erudito, mas fiz pós-graduação em música popular!!
Pra começar, é bom deixar claro que essa separação ocorre porque nós, os
seres humanos, temos a mania de classificar tudo, tudinho. A gente coloca os seres
vivos (animal ou vegetal), separados por reinos, espécies, gêneros... Também coloca os
alimentos organizados nos supermercados por gôndolas, seções, plaquinhas... Em casa
guarda tudo dentro de caixinhas, pastas (com etiquetas ou não), gavetas, porões,
sótãos... E coloca também as artes separadinhas em épocas, estilos, períodos, culturas...
Bom, organizar ajuda a gente a entender o mundo em que vivemos, isso não é
de todo ruim.
Acontece que o Sr. Ludwig van Beethoven, um alemão nascido em 1770, não
tinha a mínima idéia de que sua música seria enquadrada no período Clássico da
História; nem que ele seria classificado como um músico de transição para o período
Romântico; nem de que sua obra seria chamada de erudita! Na verdade, compositores
como ele, que a gente acostumou a chamar de ‘clássicos’ (na verdade o termo correto é
ERUDITO), eram muito populares no seu tempo. Mozart era conhecidíssimo na Áustria
do século dezoito – e em muitos lugares da Europa!! Suas canções e obras eram
assobiadas nas ruas, pelas pessoas comuns. E isso num tempo em que não existia rádio,
discos e muito menos mp3!! Quer maior prova de popularidade?
O que acontece é que nossa estrutura de ensino-aprendizagem de música,
também veio importada de lá: fomos colonizados por europeus. Ahá! Por séculos
entendeu-se que o que era bom, de qualidade, era só o que se fazia em Paris ou Viena.
Daí a nós, brasileiros do século vinte-e-um, conhecermos e ainda estudarmos muito a
música européia. Como esse estudo está muito bem sistematizado há uns 200 anos
mais ou menos, convencionou-se chamá-lo de erudito (do dicionário: ‘muito
instruído’). Nessa classificação há algumas considerações a fazer:
· Não é ‘qualquer um’ que é considerado erudito. É preciso que sua obra
tenha sido basicamente escrita para posteridade;
· É preciso que a obra tenha um senso de atemporalidade, ou seja, que
não seja apenas um hit do verão;
· Para ser um intérprete de música erudita, é preciso cursar uma
academia de música, uma vez que há um nível de exigência
considerável, só adquirido com conhecimento teórico e prático;
· Na música erudita não se permitem certas liberdades como alterar a
tonalidade ou intervir na criação acrescentando notas à medida que se
executa – mantém-se fiel à partitura original – SEMPRE!
· Os brasileiros que estão classificados como eruditos são aqueles que
conseguiram respeito do público europeu, como Heitor Villa-Lobos e
Carlos Gomes;
· Existe música erudita sendo composta até os dias de hoje! Os
compositores são inumeráveis: Brian Bonsor, Rafael Sales Arantes,
Marlos Nobre, Jeremias Nicacio, Malcom Arnold, Bradley Joseph, e
outros, muitos outros...
E a música popular? Bom, começo dizendo que não é uma subcategoria, que
esse termo não é pejorativo, e que seu estudo demanda tanto suor quanto o estudo da
música erudita – SIM! Porque é uma linguagem diferente.
Quando eu comecei a estudar piano, todos me diziam: “_Isso! Estuda o
‘clássico’, porque quem toca ‘clássico’, toca qualquer tipo de música!”...
Com o passar dos anos verifiquei que isso não é verdade, infelizmente. Quem
aprende ‘clássico’, toca ‘clássico’! Quem aprende ‘popular’, toca ‘popular’! Simples
assim. Mas nada tão grave que não nos permita passear por entre essas várias
linguagens, guardadas as devidas proporções de diferenças de estilo. Até porque a
música popular pode ser feita com erudição, e essa fronteira não é delimitada com
clareza. Quer um exemplo bem rápido? Tom Jobim!!
Geralmente a música popular é mais curta que a erudita, é transmitida
oralmente, ou através de gravações ou através de registros musicais cifrados – o que,
convenhamos, dá muita liberdade para a execução. Pronto! Cheguei onde eu queria: na
música popular é permitido mexer na tonalidade, é permitido improvisar, reharmonizar,
contribuir com minha própria história na execução de um tema composto
por outra pessoa. Mesmo que ela não me conheça!
No estudo da música popular nas escolas, ainda há muito para se construir –
no que diz respeito a métodos escritos e metodologia aplicada. Hoje em dia o ensino de
música popular (brasileira, argentina, americana...), é estruturado a partir de um
repertório mais contemporâneo, utilizando-se elementos de estruturação e arranjo do
próprio intérprete e incentivando a improvisação (já foi o tempo em que essa palavra
era utilizada como desculpa para tocar qualquer-coisa de qualquer-jeito...).
Então quando uma pessoa escolhe aprender o ‘popular’, ela vai aprender o
básico do instrumento igualzinho a quem faz o ‘erudito’ – reconhecimento do
instrumento, técnica, escala, teoria. A diferença se concentrará exatamente na escolha
do repertório pra tocar. Daí sim, haverá DIFERENÇAS – de percepção harmônica, de
toque, de ritmos, de notação, etc.
Mas tudo é música... daqui ou de lá, de hoje ou de ontem, de ‘ouvido’ ou por
partitura.
VIVA AS DIFERENÇAS!!
Marisa Toledo
marisa.toledo@gmail.com

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